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quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Crônica

“JOSÉ E PILAR”
O Espetáculo da Antropofagia e/ou Amor?

Assisti ao filme “JOSÉ E PILAR” pela segunda vez. Chorei muito na primeira vez. Mas, como um bom mineiro, chorei desconfiado. Mas, os portugueses, também, estão desconfiados e boa parte do mundo. O filme conta a história do 1º Prêmio Nobel de Literatura de língua portuguesa e seu romance, de 20 anos, com Pilar Del Río. E é filmado na vida real. Pilar é um tipo parecido com Jaqueline Kennedy Onassis, tipo 2 do eneagrama. Aquela pessoa que se gratifica no próprio ato de dar. Adora dar presentes, dar tudo. E como diz o Alaor Passos, grande especialista de Eneagrama no Brasil: é a galinha do Eneagrama. Ela costuma se apaixonar pelas pessoas mais importantes do pedaço. E seja ele como for: feio ou bonito, jovem ou velho, são ou doente, seja como for, se ele é o mais importante, então, ele é o seu eleito. Esse tipo costuma ser alpinista social, em outras palavras, costuma dar o golpe do baú. Quantas vezes quantas forem necessárias. Mesmo que enterre seus pretendentes quantas vezes necessárias forem. Nem todas as pessoas desse tipo têm consciência de assim ser. O fato é que Pilar diz que não podemos deixar as emoções dominar a razão, a razão deve sempre estar no comando, custe o que custar. Lembro-me de uma frase típica de um tipo assim: - Você pensa que eu sou boba? Sim, são bobas. São bobas na medida em que usam o outro para seus fins. E, claro, isso tem um custo enorme para todos os envolvidos, a começar deles mesmos: o casal, depois filhos e outros mais. Todos perdem. Não há vitoriosos nessa falta de amor.
Mas, quem assiste ao filme e não faz esse tipo de questionamento pode achar que o amor é lindo. Lindo é o amor de Deus, totalmente desinteressado, mas esse “amor” humano, não é tão lindo assim. Pode até ser prático. Pode até ser funcional como no caso desse casal que rodou o mundo, várias e várias vezes, em infinitos trabalhos e homenagens. Bom para o ego, mas, trágico para a saúde, como foi no caso dele e talvez para a verdade ou um verdadeiro amor. O capitalismo antropofágico, que se alimenta do espetáculo, como diz a música “Blecaute”, vai comendo sua vítima, por todos os lados, saciando a fome antropofágica de uma platéia carente de estar junto dos famosos. É uma troca de um sangue por outro. Dinheiro já foi muito comparado com sangue a começar do grande médico e economista Quesnay. Em tom de brincadeira José Saramago diz, que agora, é a mulher dele quem manda no dinheiro dele como Presidenta da Fundação José Saramago. Golpe de mestre ou de mestra. Mas, só ela sabe se realmente existe amor em tudo isso. Mesmo que haja ela pode dizer: - Pensam que eu sou boba? Quanto às mulheres, ela não tem dúvida, tem certeza que são 100% mais inteligentes que os homens, além de ainda poderem fazer vários trabalhos ao mesmo tempo. Ela é uma feminista, não radical, mas, sectária. Fica cega quando o assunto é feminismo. A ponto de brigar com o marido.
Como diz Gael Garcia Bernal, que contracena na vida e no filme com Saramago, no México, Saramago é um artista. Portanto, representa também e muito bem. Saramago, mais velho que Pilar Del Río, talvez percebesse que estava sendo usado, mas estava usando também. O amor humano não é perfeito senão não seria humano. Claro que gostavam um do outro senão esse teatro seria insuportável, mas, a minha desconfiança continua.
Ela argumenta muito bem: - O que as pessoas querem? Querem que Saramago coloque um cobertor nas pernas? Por outro lado, a meu ver houve um exagero de viagens, que aqui relato como antropofagia. Mas, eles decidiam juntos se viajariam ou não. Ele não tinha a saúde que ela tinha. E morre aos 87 anos, produtivamente, o que é muito positivo.
Poucas vezes na vida eu queria estar enganado como quero agora e poder descobrir que a relação de José e Pilar era, de, digamos, muito mais amor que teatro. Como eu gostaria que assim fosse!

Paulo Roberto Guimarães Moreira