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segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

O BRASIL NAS COPAS

Finalmente unido, time bateu na trave

Campanha na França marcou pela primeira vez a presença brasileira numa semifinal

A preparação, de 30 dias, foi em Caxambu, no Sul de Minas



Na disputa pelo terceiro lugar com a Suécia, deu Brasil por 4 a 2: equipe obteve quatro vitórias e um empate, perdendo apenas para a Itália

Depois de duas campanhas inexpressivas, resultados de brigas políticas envolvendo as entidades que regiam o futebol brasileiro à época, a Seleção Brasileira, finalmente, chegou com um “time de verdade” para a Copa do Mundo de 1938, na França. Em 1930, no Uruguai, o Brasil foi formado apenas por atletas que atuavam no Rio, por retaliação dos paulistas, preteridos pela comissão técnica. Quatro anos mais tarde, a disputa entre amadorismo e profissionalismo fez com que a Confederação Brasileira dos Desportos (CBD) levasse apenas atletas do Botafogo (que resistia amador) e alguns poucos que se desligaram de seus clubes para jogar o Mundial. 

Em 1938, enfim, o cenário era diferente e favorável. Com os maiores clubes do país já profissionalizados, o futebol se tornava o esporte mais popular do país, propiciando a ascensão de ídolos. O técnico carioca Ademar Pimenta pôde usufruir do que a modalidade brasileira tinha de melhor e convocou 20 jogadores – 16 que atuavam no Rio e quatro em São Paulo. A preparação, de 30 dias, foi em Caxambu, no Sul de Minas.

No grupo estavam nomes conhecidos, como o goleiro Batatais, o armador Romeu e o atacante Tim (Fluminense), o zagueiro Domingos da Guia e o atacante Leônidas da Silva (Flamengo), que já havia participado da Copa’1934, terminando como artilheiro da edição francesa, com sete gols. 

Minas Gerais, que foi representada pela primeira vez no Mundial anterior, com o juiz-forano Heitor Canalli, teve cinco jogadores na França: o zagueiro Nariz, de Uberaba, que defendia o Botafogo, juntamente com o lateral-direito Zezé Procópio (Varginha) e o atacante Perácio (Nova Lima), tricampeões mineiros pelo Villa Nova (1933, 1934 e 1935). No Fluminense jogava o ponta-esquerda Hércules, de Guaxupé. Além deles, o atacante belo-horizontino Niginho, dono de sete títulos estaduais por Palestra Itália/Cruzeiro, foi relacionado, mas não entrou em campo por causa de uma polêmica: na semifinal contra a Itália ele seria provável substituto do lesionado Leônidas, mas os italianos alegaram que sua situação era irregular, informando à Fifa que ele não havia se desligado legalmente da Lazio e que era desertor do Exército italiano. 

A guerra, aliás, já batia à porta. A competição em 1938 foi o último grande evento esportivo antes do início da Segunda Guerra Mundial, no ano seguinte. A Espanha sofria com a guerra civil e não pôde viajar até a vizinha França, enquanto a anexação da Áustria pela Alemanha reduziu o número de participantes de 16 para 15 – vários jogadores austríacos apareceram na Seleção Alemã. A Argentina (que queria ter feito o torneio em casa) e o Uruguai resolveram não participar, e o Brasil partiu a bordo do transatlântico Alianza como o único representante sul-americano. 

A competição era eliminatória. Logo na estreia, um jogo eletrizante. Debaixo de muito chuva, Brasil e Polônia fizeram um jogo de 11 gols, com triunfo brasileiro por 6 a 5 na prorrogação, depois de empate em 4 a 4 no tempo normal. Leônidas, que balançou a rede pela primeira vez aos 18min, fez os dois do tempo extra – um deles, reza a lenda, foi descalço, já que havia perdido a chuteira em um lance anterior. O jogo seguinte, contra a Checoslováquia, foi uma batalha campal, com três expulsões – duas do Brasil, entre eles o mineiro Zezé Procópio. Depois de pontapés, fraturas, clavículas deslocadas e um empate por 1 a 1, que permaneceu na prorrogação, as equipes voltaram para jogo extra, vencido pelos brasileiros por 2 a 1.

BATALHA NO VÉLODROME Na semifinal, o Brasil teria pela frente a então campeã mundial, a Itália, que jogava de preto a pedido do ditador Benito Mussolini. Além do técnico Vittorio Pozzo, somente quatro campeões mundiais em 1934 voltaram a defender a equipe na competição em solo francês. Dois deles, os meio-campistas Giuseppe Meazza e Giovanni Ferrari, tiveram participações decisivas ao lado do atacante Silvio Piola. Com Leônidas machucado, Niginho seria o substituto, mas a CBD achou prudente não escalá-lo, já que o atacante havia se desligado da Lazio, mas a Federação Italiana não o havia liberado – portanto, irregular perante a Fifa. 

Depois de empate por 0 a 0 na primeira etapa, os italianos chegaram ao triunfo. Aos 10min, Colaussi, em jogada individual, abriu o placar. Em seguida, Domingos da Guia fez pênalti em Piola, convertido por Meazza. No fim, Romeu diminuiu. 

O terceiro lugar para o Brasil veio depois de 4 a 2 sobre a Suécia, mesmo placar aplicado pelos italianos sobre a Hungria na decisão. Com o resultado, a Itália foi a primeira seleção da história a conquistar um bicampeonato consecutivo – feito que só viria a ser igualado pelo Brasil 28 anos depois.

França

• Campeão.............Itália

• Vice.....................Hungria

• Artilheiro..............Leônidas da Silva (Brasil) 7 gols
Personagem

Leônidas da Silva

A Copa do Mundo’1938 foi a segunda de Leônidas da Silva, que se consagrou como artilheiro, com sete gols. Um dos atletas mais populares dos primeiros anos de futebol profissional, o Diamante Negro teve papel importante na luta pela profissionalização e foi ídolo de Vasco, Flamengo e São Paulo, onde encerrou a carreira, em 1950. Ao apresentar aos europeus a bicicleta, Leônidas começou a mudar a imagem do futebol brasileiro. Ele morreu em 2004, aos 90 anos.

Campanha do Brasil

5/7    Brasil 6 x 5 Polônia
Gols: Leônidas 18, Skerfke 23, Romeu 25, Perácio 44 do 1º; Wilimowski 8 e 14, Perácio 26, Wilimowski 44 do 2º; Leônidas 3 e 14 da 1ª prorrogação; Wilimowski 13 da 2ª prorrogação

12/6    Brasil 1 x 1 Tchecoslováquia (quartas de final) 

Gols: Leônidas 30 do 1º; Nejedly 20 do 2º

14/6    Brasil 2 x 1 Tchecoslováquia (jogo de desempate)
Gols: Kopecky 25 do 1º; Leônidas 12 e Roberto 18 do 2º

16/7    Brasil 1 x 2 Itália (semifinal)
Gols: Colaussi 6, Meazza 15 e Romeu 42 do 2º

19/7    Brasil 4 x 2 Suécia (disputa de terceiro lugar)
Gols: Jonasson 28, Nyberg 38, Romeu 44 do 1º; Leônidas 18 e 29 e Perácio 35 do 2º 

Você sabia?

• Único W.O. da história

A Áustria havia sido anexada pela Alemanha de Adolf Hitler três meses antes da Copa. Como muitos jogadores foram defender a Alemanha, a Seleção Austríaca não foi à Copa. O que seria o jogo de estreia, contra a Suécia, se tornou o único W.O. da história dos mundiais. 

• Rápido adeus

Duas seleções tiveram a sua primeira e única participação em Copas em 1938: Índias Orientais Holandesas, que viriam a se chamar Indonésia, perdeu por 6 a 0 da Hungria; e Cuba, que eliminou os romenos no jogo de desempate (2 a 1 depois de 3 a 3), mas foi goleado por 8 a 0 pela Suécia.

• Só termina quando acaba

A Alemanha vencia a Suíça por 2 a 1 ao fim do primeiro tempo. Apressados, os integrantes da comissão técnica alemã resolveram enviar um telegrama contando sobre a vitória. Mas, na etapa final, os suíços fizeram três gols e ficaram com a vaga. 

• Ao pé do rádio

Os brasileiros acompanharam a Copa ao vivo pela primeira vez, transmitida pelo rádio. O locutor Gagliano Netto, da Rádio Cruzeiro do Sul, narrou o jogo do Brasil.


Renan Damasceno - Estado de Minas