AVANT SUPERMERCADO - CAXAMBU

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domingo, 18 de setembro de 2016

Crônica - Parabéns Caxambu - 115 Anos

Crônica
Parabéns Caxambu - 115 Anos 


Sérgio Luiz de Castro Pessoa   
Lendo a crônica de José Celestino Teixeira, retratando uma época de ouro de Caxambu, sob a ótica de um morador da cidade, e embora conhecendo lugares e alguns personagens mencionados, resolvi relembrar da "minha" Caxambu, vivenciada por alguem que passava 2 meses por ano de férias no paraíso.
Paraíso sim.
Devo dizer que tenho 68 anos, e, desde 1948, ainda na barriga de minha mãe, passei a frequentar religiosamente Caxambu, em Fevereiro e em Julho, até começar a trabalhar e restringir a um mes as minhas idas. No final da década de 70 nasceram meus filhos , que levei a Caxambu em todas as férias escolares.
Mas gostaria mesmo de recordar a Caxambu do final da década de 50, dos dourados anos 60 e início dos 70.
Uma época em que:
- Os jovens do Glória , Palace e Grande Hotel formavam uma única turma, pois não havia piscina nos hotéis, o lazer diurno sendo bàsicamente no Parque das Águas. Aliás, penso que a construção de piscinas nos hotéis foi o início da desintegração daquele espírito de unidade, que permitia ao Paganelli promover Gincanas e Jogos de Futebol na Funabem, entre veranistas ( como nós éramos chamados) e o pessoal da terra;
- O dia começava com passeios de cavalo com 40/50 participantes. Os cavalos ficavam virados para a calçada desde a esquina da rua do Hotel Lopes até a esquina da rua João Pinheiro, aguardando os "cavaleiros" e "amazonas" terminarem o Café da Manhã para iniciarem o passeio.
Normalmente os passeios eram guiados pelo Raé ( Israel seu nome) , charreteiro muito querido, e duravam em torno de 4 horas.
Os cavalos eram alugados do Nestor ( de longe a melhor tropa e tio do Fernandinho do Bosque), Zé Antão, Seu Mário, Seu Virgílio e outos)
- Após o passeio, os cavalos eram devolvidos na entrada do parque , e imediatamente se seguia para a piscina, local da paquera e onde era combinada a programação do restante do dia;
- Os mais velhos iam para o 307 ( R. João Pinheiro) ou para a Fonte do Alexandre ( R. Dr. Viotti) tomar aperitivos antes de almoçarem nos seus respectivos hotéis;
- Depois do almoço, a paquera continuava no Glória ou no Palace, um joguinho de sinuca, ou um programa tradicional: Cinema.
Cinema ao qual íamos quase sempre sem muita vontade de ver o filme, mas sobretudo para infernizar a vida do Tomé, que era o lanterninha do cinema, e certamente odiava aquela turma de bagunceiros;
- No fim de tarde, íamos comer pastel no Cid, ainda na João Pinheiro ao lado Ed. Anice, sempre com um grupo que incluía charreteiros amigos como o citado Raé, o Mico, o Vado e outros.
- E chegava a noite, em que pirralhos de 13,14 15,16 anos tinham que vestir um terno para jantar nos hotéis ( Glória, Palace e Grande Hotel) e depois irem para a boate.
Os jantares naqueles hotéis eram um verdadeiro desfile de modas , com as mulheres exibindo suas melhores jóias.
A cada ano, em dezembro, meu pai me levava para fazer dois ternos para as férias de fevereiro em Caxambu. Como eu estava em fase de crescimento , a cada março os dois ternos estavam sem uso, e no dezembro seguinte outros ternos eram encomendados;
- Existiam 2 boates.
A Boate Glória, realmente digna do nome, e a boate do Palace, que era o Salão do Café da Manhã (à direita da entrada, hoje sala de estar) , transformado em boate à noite.
Improvisação que não incomodava ninguem , todos se divertiam como se estivessem no Night and Day do Rio de Janeiro.
No Glória pontificava o grande garçon Colibri, que embora perturbado por nós o tempo todo, era no fundo um amigo nosso, com quem podíamos contar.
- O Carnaval era animado pela bandinha onde pontificavam o Isac Rosental , seu irmão Mário e o Lulu Barbeiro.
O Glória fazia 4 bailes de Carnaval, inesquecíveis para a geração que os frequentou.


Enfim, Grande Hotel, 307, Xodó, Chuá ( a melhor coxinha e croquete da cidade- Viva o Calil), Fonte do Alexandre, Boate do Glória, Pastelaria do Cid, bons cavalos para alugar ( os passeios acabaram porque as fazendas não permitem mais a passagem) , tudo isso acabou, e , infelizmente, nada foi substituído à altura dessa época gloriosa que relatei.


Para terminar , gostaria de fazer uma homenagem à saudosa Dona Annita Lopes, proprietária do Grande Hotel, e minha segunda mãe ( e ao grande e saudoso amigo Maurício Lopes), a quem meus pais me entregavam quando não podiam ir a Caxambu e eu não abria a mão de aí estar. Ela foi minha segunda mãe, e o Grande Hotel a minha segunda casa, até o seu fechamento em 2013.
A partir daí , depois de 65 anos , deixei de ir a Caxambu, é muito duro ver o Grande Hotel fechado e abandonado.

PARABÉNS CAXAMBU PELOS 115 ANOS !


Sérgio Luiz de Castro Pessoa